Atenção plena

Você se percebe no piloto automático? Veja como desligá-lo em 3 passos.

Estamos vivendo num mundo extremamente acelerado, movido pela tecnologia digital e excesso de informação. Nele, tudo é feito para não durar, como diz o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman.

No antigo mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) e atual mundo BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível), iniciamos um momento de transição, fortemente impulsionado pela pandemia do novo coronavírus, no qual o paradigma mecanicista vai perdendo o seu destaque e vai dando lugar a uma complexidade difícil de decifrar.

Somos 7,5 bilhões de pessoas na Terra e nunca tivemos tantos estímulos competindo pela nossa atenção, tantas informações transitando a cada segundo, dificultando a nossa compreensão do que é real ou fantasioso. Nunca tivemos tanta tecnologia de ponta sendo tão massivamente usada a nosso favor e, ao mesmo tempo, nunca estivemos tão conectados digitalmente e tão sozinhos fisicamente! Parece ambíguo e incompreensível? Claro, foi VUCA e agora é BANI!

Ora, o que está fora está dentro! Essa velocidade do mundo externo reflete no nosso mundo interno, estruturando um novo estilo de vida baseado na agitação, ansiedade, correria exagerada, alimentação descuidada, sedentarismo, imediatismo, vício em substâncias, vício em tecnologia e intolerância nas relações, gerando gradativo adoecimento. Diante deste panorama, as emoções descontroladas provocam uma comunicação violenta, com forte viés na reação: reagir parece que passou a ser mais importante do que responder!

Tudo isso afeta a saúde, provocando um desequilíbrio entre as suas dimensões física, emocional, mental, social e espiritual, afetando a vida pessoal e profissional. E nesse emaranhado de velocidade, informações, dados, redes e cabos, ligamos o “piloto automático” para dar conta de (sobre)viver, reagindo aos modelos mentais cristalizados, não mais fazendo escolhas conscientes. E o resultado? Nos desconectamos de nós e dos outros.

Ligar o “piloto automático” significa agir de forma mecânica e padronizada, sem pensar sobre a situação. O nosso cérebro sozinho consome 25% da energia do nosso corpo e para se poupar, ele tem a tendência a automatizar nossas atividades mais mecânicas e repetitivas, como por exemplo, andar de bicicleta, dirigir um veículo etc. Isso é benéfico, pois não precisamos parar para pensar sobre como subir numa bicicleta ou como usar o freio, o acelerador e a embreagem do carro todas as vezes. Esse automatismo é benéfico e saudável.

Mas, quando passamos a assumir o “modo automático” em vários momentos do dia simplesmente porque estamos distraídos, dividindo a nossa atenção e ocupados com várias coisas ao mesmo tempo, vale a pena uma reflexão. Nestes casos, podemos esquecer onde estacionamos o carro no shopping, nem lembrar da comida no fogão, usar uma roupa pelo avesso, responder a uma pergunta sem ouvi-la corretamente…

É nesse ponto que o automatismo se instala nas relações do dia a dia, nos levando a reagir aos estímulos sem pensar e o estresse desses eventos vai se acumulando, provocando sobrecarga, esgotamento, exaustão. Veja aqui um exemplo para ilustrar: ao ler um e-mail desafiador dirigido a você e copiado para várias pessoas, inclusive o seu chefe, qual normalmente seria a sua reação? Se a sua reação for responder imediatamente, “no calor da emoção”, ajustando uma defesa que se organiza em palavras ou frases em negrito, caixa alta ou em vermelho, copiando mais algumas outras pessoas, de preferência em cargos de poder, você deixou o seu piloto automático responder, ou melhor, REAGIR!

Reações automáticas são tomadas pelo impulso de se livrar de um evento “visto como ameaçador”, gerador de desconforto, raiva, medo, que promove uma descarga de substâncias químicas tóxicas no corpo, como adrenalina e cortisol, por exemplo. Se estes eventos acontecem com frequência e intensidade e apenas reagimos sem pensar, eles se tornam agentes estressores que podem desencadear níveis crônicos de estresse, com consequências que afetam a saúde física e mental nos mais diversos níveis. E uma boa parte da população mundial tem sido constantemente atingida por isso.

Diante deste panorama, “desligar o piloto automático que há em nós” nunca foi tão urgente e necessário. Desligar o automatismo para (re)ligar a atenção, a presença, a consciência! Esse é o caminho. Mas, como fazer isso?

03 passos para desligar o piloto automático:

  1. Pare e silencie.

Faça uma pausa, tomando distância do evento estressor por um momento. Provavelmente sua mente estará ruminando a situação, numa tentativa de buscar saídas para se proteger. Parar vai lhe fazer ajudar a silenciar e o silêncio irá reduzir o burburinho da sua mente.

  1. Respire profunda e conscientemente.

Se conecte com a sua respiração inspirando e exalando lentamente, para acionar a resposta de relaxamento diante do evento estressor.

  1. Reavalie a situação e responda ao invés de reagir.

Reconheça a emoção presente em você e observe novamente a situação, avaliando com maior consciência, as possíveis respostas para gerar desfechos mais positivos.

Gostou destes 3 passos? É possível desenvolvê-los e aprofundá-los para ter uma vida mais leve e fluida, com mais Presença e saúde integral.

Para desligar o “piloto automático” é necessário gentileza consigo mesmo, abertura para se permitir conhecer melhor e curiosidade para se auto observar, gerenciando as emoções, manejando o estresse e desarmando a mente ruminante para proporcionar o estado de presença e atenção plena no qual é possível fazer escolhas conscientes.

 

Photo by Brett Jordan on Unsplash

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