Autoconhecimento

O mundo corporativo e eu: por que precisei e gostei de mudar?

Ultimamente tenho sentido muita vontade de escrever sobre a minha experiência no mundo corporativo, compartilhando tudo o que aprendo a cada dia neste universo tão vasto que compõe as organizações empresariais.

Com essa ideia quase fixa na cabeça pensei que escrever só para mim, como se estivesse fazendo um diário o qual somente minha filha provavelmente leria um dia, não parecia muito inteligente. Daí lembrei que poderia usar as redes sociais para este fim e aqui estou, pronta para desbravar esse universo.

Eu trabalho desde os 18 e agora estou com 54 anos. Boa parte da minha vida passei no ambiente empresarial, rodeada de estratégias, indicadores, processos, lideranças, colaboradores, regras, metas…

Aos 22 anos, recém saída da faculdade, liderei minha primeira equipe numa indústria têxtil; aos 24 liderei uma equipe de quase 50 homens todos mais velhos que eu na área automotiva; aos 25 montei meu primeiro negócio que existe até hoje e aos 50, me lancei em um novo empreendimento que é também o meu propósito de vida.

Para viver essa trajetória eu encarei o trabalho como algo de muito valor e com um sentido enorme para mim. O trabalho sempre foi a minha fonte de inspiração, por meio do qual eu conseguia transformar a mim, o ambiente e as pessoas. Eu sempre achei o máximo qualquer trabalho que fazia.

Vivi muitos longos anos em função do meu trabalho, sem perceber a armadilha na qual eu mesma me colocava. Gostava tanto de trabalhar que ficava indignada quando alguém reclamava da segunda-feira ou fazia uma expressão de alívio na sexta. Era quase um sacrilégio pra mim!

Sempre fui responsável com o meu trabalho, muito firme na minha postura e muito corajosa para enfrentar as situações que me chegavam. Fui tão certinha que endureci! Cristalizei um modelo de trabalho e me habituei profundamente a ele. E ele, entendendo o poder que exercia sobre mim, tomou conta de cada célula do meu corpo como se somente houvesse essa área da vida para eu cuidar.

Em 2008 comecei a me dar conta de que algo não andava bem. Eu havia acumulado tanto estresse que o meu corpo não aguentava mais e começava a gritar para eu parar. O meu coração, num acesso louco de taquicardia, começou a bater desesperadamente me pedindo um tempo naquele estilo de vida maluco e eletrizante que eu levava. Depois de tomar um betabloqueador que reduzia o meu metabolismo, me engordava, mas não conseguia fazer meu coração se aquietar, eu recebi do 7o cardiologista por onde passei a receita de largar a medicação e fazer yoga e meditação. Até rimou!

Quase num passe de mágica (obviamente que não foi isso e sim muita disciplina para não desistir de ir às aulas), meu coração se acalmou! Comecei a gostar da experiência e quis entender mais profundamente os benefícios dessas práticas sobre a saúde das pessoas e em especial, os seus efeitos sobre um workaholic.

Voltei a me interessar pela Psicologia, minha formação original da qual estava distante em função de tantos cursos na área empresarial: dois MBAs, duas formações em gestão no Japão, diversas formações específicas e vários cursos de pequena duração.

Resolvi aplicar para um Doutorado em Psicologia e no meu primeiro projeto resolvi estudar o impacto de líderes estressados sobre suas equipes, observando fatores como produtividade, comunicação, relacionamento, adoecimento, clima etc. Fiz uma formação sobre estresse para entender direito desse tema.

Ao longo desse processo de estudo, conheci uma escola iniciática chamada DEP – Dinâmica Energética do Psiquismo, cujo principal objetivo é explicar e praticar a corporificação da consciência. O que é isso? Explico melhor em outro artigo, ok?

Fiz a formação na DEP por três anos e todos os seus ensinamentos faziam total sentido pra mim. Mas a esta altura eu já estava novamente atolada de trabalho e muito estudo.

Foi então que percebi que precisava parar, mas não sabia como. Como desligar este “piloto automático“? Me vi de novo caindo na minha própria armadilha, sendo bem redundante.

Em janeiro de 2016 comecei a buscar caminhos e sem saber muito bem por onde ir, iniciei uma dieta cujo objetivo era perder 10 quilos em 8 meses. Perdi 12 em 8 meses! Comecei pelo corpo, mas faltava muito mais.

Em maio do mesmo ano vi uma propaganda de um retiro de yoga e meditação no interior de São Paulo e resolvi participar. Foram 05 dias que me prepararam devagar para uma outra página da minha história de vida.

Ao chegar naquele lugar, cheio de regras que nos ajudam a gerar conexão para dentro e não para fora, me vi sozinha: eu comigo! Entrei no meu quarto gelado e sem banheiro que mais parecia uma cela e me assustei. Não me lembro de ter sentido tanto medo antes na vida. Também senti medo na sala de meditação que foi construída por 12 pessoas que trabalharam durante meses em total silêncio. Mas, estranhamente adorei o momento que tínhamos que ficar em silêncio absoluto, sem falar e nem mesmo interagir com ninguém através do olhar. No final do segundo dia naquele lugar, entendi que o meu medo era de olhar pra mim, de fazer contato comigo, sem intermediários, sem máscaras. Lá estava eu, nua e crua!

Essa experiência me burilou para o que viria depois. No final do mesmo ano, um simples episódio me fez parar pela primeira vez em casa, sem trabalhar. Machuquei meu joelho direito e fiquei sem andar por uma semana. Pouco tempo, né? Uma semana sim, mas precisei fazer fisioterapia severa por 04 meses e para isso eu não trabalhava pela manhã, pois chegava a fazer 2 horas de exercícios por dia.

Durante esse período, cada vez que eu deitava na minha cama um filme de toda a minha vida passava pela cabeça e eu agradecia a oportunidade de alterar o curso da minha história.

Criei uma prática pessoal de meditação 03 vezes por dia, relaxamento, yoga leve, leitura sobre autoconhecimento e principalmente auto observação. Acionei o meu Eu Observador e pela primeira vez na vida, aos 49 anos de idade, sai do automatismo e vivenciei realmente a minha essência, agindo verdadeiramente pela consciência.

Quanto mais eu praticava, mais eu me expandia e menos me reconhecia, pois eu ficava mais distante dos papéis que “interpretava” e me aproximava mais de quem realmente sou. Ah, que sensação de liberdade! Me libertei da armadura, literalmente, como na história do livro O Cavaleiro Preso na Armadura. Ops, spoiler?

Com esta leveza na alma passei a entender que precisava ressignificar toda a minha vida, equilibrando as minhas diversas dimensões: física, emocional, mental, social e espiritual.

Neste “pacote” de mudanças, claro que o meu trabalho e a forma como eu lidava com ele precisaram ser mexidas. Uma intuição me surgiu, me rondou vários dias e noites. Era um pensamento fixo que dizia que eu precisava continuar firme nesta jornada e a única forma que eu tinha de assegurar isso era ajudando outras pessoas a buscarem também seus próprios caminhos. A princípio fiquei achando que era outra auto-armadilha (criei esse nome agora para não usar auto sabotagem), mas passando mais e mais tempo, percebi o seu real sentido. Um propósito maior surgiu na minha mente e se concretizou nesta frase que virou um lema: “deixar fluir o melhor que há em mim para fazer fluir o melhor que há em você.” Pronto! Com essa frase nasceu meu novo mundo, ou melhor, minha nova experiência neste mesmíssimo mundo.

Em 2017 resolvi aprofundar a teoria e a minha prática nas técnicas de autoconhecimento para ser capaz de criar um método passível de ser usado no mundo corporativo. Me formei em Biopsicologia, aprofundei a meditação, iniciei a formação nos Movimentos Essenciais. Em 2018 veio a Física Quântica e depois saúde integrativa, psicologia positiva, neurociências do comportamento.

Juntei tudo o que sabia e quem eu verdadeiramente sou e comecei 2018 levando para o mundo corporativo a oportunidade das pessoas, principalmente os líderes, olharem mais para si mesmos e saírem do piloto automático. Ao invés de estudar o estresse das lideranças, resolvi mostrar a elas como serem o “líderes de si mesmos“, buscando no autoconhecimento o caminho para a liderança consciente e inovadora. E claro que este caminho gera muito mais resultado do que qualquer outro, tanto para o próprio líder, seus liderados e para o negócio.

Esse caminho se ampliou, se modelou diante dos desafios da pandemia de Covid-19 e se transformou em um propósito que enxerga a integralidade como caminho regenerativo para a construção de relações humanas nutritivas e ambientes saudáveis, onde indivíduos, organizações e sociedade se beneficiam.

Num momento em que as pessoas, empresas e a própria sociedade não suportam mais os mesmos e ultrapassados padrões, uma nova possibilidade vem sendo construída e sou feliz por participar desta transformação.

Renovei muitas vezes, mas apenas uma vez em 2017, completando meus 50 anos, regenerei minha integralidade e renasci!

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